Se você também anda flertando com o mundo da bike, talvez já tenha ouvido falar do Tour de France. Mas será que sabe por que ele é tão grandioso, tão instigante e, por que não dizer... tão viciante?
Bienvenue au Tour de France!
Tradicionalmente realizada no mês de julho, a prova conta com 21 etapas diárias ao longo de 23 dias, percorrendo cerca de 3.200 km. Sim, é muita coisa!
As corridas percorrem a França em trajetos que alternam entre o sentido horário e anti-horário, encarando subidas duríssimas, curvas escandalosas, paralelepípedos caóticos e paisagens de tirar o fôlego — tudo em busca da famigerada "camisa amarela".
De uma recém-apaixonada pelo ciclismo: o Tour me fisgou de vez.
No início da edição deste ano, fiquei tão fascinada que mergulhei de cabeça no universo da prova. Quanto mais eu descobria, mais queria contar e entender.
Descobri que o ciclismo é estratégico, emocionante, coletivo, suado e vibrante. Por isso, reuni aqui uma lista de curiosidades, causos e dados que me fizeram virar fã do Tour — e que talvez conquistem você também.
@uncle_rinne
01. De jornal de bairro a fenômeno global - a origem.
A origem do Tour parece ter saído de um pitch improvisado: em 1903, o jornal L’Auto criou a corrida como uma jogada meio desesperada para competir com o market leader da época, o Le Vélo.
A ideia surgiu de um repórter de 26 anos: um desafio ciclístico de 2.400 quilômetros por toda a França.
Deu certo. A circulação do jornal triplicou, o Tour virou evento anual e os franceses passaram a acompanhar a saga dos atletas que pedalavam de Paris a Lyon, Marselha e Bordeaux — muitas vezes de madrugada, carregando os próprios pneus nos ombros. As fotos dessa época são um verdadeiro time capsule.
/x.com
(Parêntese): os franceses são mestres em criar ideias fora do core pra alavancar marcas. Em 1900, um francês de uma empresa de pneus criou um guia de restaurantes que até hoje dita onde comer bem no mundo inteiro. Sim, o Michelin Guide. Mas isso é uma outra curiosidade..
A profissionalização midiática do Tour foi consolidada com a criação da ASO (Amaury Sport Organisation), ligada à família Amaury, que assumiu oficialmente a organização a partir de 1992. Desde então, a prova virou um case de mídia e logística global.
Com o tempo, o Tour cresceu, ganhou etapas e passou a atrair atletas do mundo todo. Hoje, faz parte do UCI WorldTour, com equipes que são verdadeiras multinacionais esportivas — as equipes entram pela somatória de pontos adquiridos ao longo das outras competições UCI no ano, apesar de uma ou duas equipes com relevância local receberem um convite no formato “carta branca” - as chamadas Wild Cards. A disputa é high level.
2. É do Brasil! O brasileiro que venceu o Tour!
Ok, ninguém do Brasil venceu a geral (ainda!), mas temos nossos momentos de glória.
Ao todo, cinco brasileiros já largaram no Tour: Mauro Ribeiro, Murilo Fischer, Luciano Pagliarini, Renan Ferraro e Wanderley Magalhães.
Mauro Ribeiro venceu uma etapa em 1991 — até hoje, a única vitória brasileira na prova. Murilo Fischer, por sua vez, teve status de top sprinter em vários momentos da carreira.
E 2025 é ainda mais especial: Tota Magalhães será a primeira brasileira a disputar o Tour de Femmes. Que highlight! Mas convenhamos, o Tour de Femmes merece um blog próprio só pra Elas!
/@totamagalhaes
3. Uma das competições mais assistidas do mundo!
Se você acha que o jogo do Inter de Milão contra o Paris Saint German foi assistido por muitas pessoas, saiba que os ciclistas ganham — de muito — da Champions League, da NBA e até do Super Bowl.
O Tour só perde para a Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos:
Evento |
Audiência estimada |
Copa do Mundo (FIFA) |
+5 bilhões de espectadores acumulados (2022) |
Jogos Olímpicos |
~3 bilhões de espectadores acumulados |
Tour de France |
~2 bilhões de espectadores acumulados |
A prova é transmitida em mais de 190 países, com câmeras em helicópteros, drones, motos e aviões. Tudo isso para registrar cada ataque, queda e sprint final. Mais de 12 milhões de pessoas acompanham ao vivo nas ruas da França. Huge.
E tem streaming também, claro. O doc. “Tour de France: Au cœur du peloton” (Netflix) mostra os bastidores com uma pegada quase de reality. Vale o play.
4. As camisas coloridas mais desejadas do mundo.
Você com certeza já viu as famosas jerseys do Tour.
Elas não são só icônicas, mas cada uma carrega um significado que representam algo:
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🟡 Maillot Jaune - Amarela: o líder da classificação geral (quem fez o menor tempo somado).
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🟢 Maillot Vert - Verde: o melhor velocista (quem soma mais pontos nas chegadas e sprints).
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🔴⚪️ Maillot à pois Rouges - Bolinhas vermelhas: o rei da montanha (quem se destaca nas subidas).
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⚪️ Maillot Blanc - Branca: o melhor ciclista jovem, com até 25 anos.
Inclusive o leãozinho de pelúcia que vem junto com a jersey é do banco Credit Lyonnais (agora LCL), que patrocina a camisa amarela do Tour - A famosa jersey amarela, usada pelo atleta líder do dia, custa a bagatela de apenas US$ 12 milhões ao banco LCL. Haja budget!
5. O maior (e mais dopado) vencedor do Tour de France!
Não tem como falar sobre Tour de France e não mencionar Lance Armstrong. Estamos falando do cara que simplesmente venceu o Tour sete vezes consecutivas (um recorde absoluto em toda história), de 1999 a 2005.
/x.com
Todavia, em 2012, alguns anos após encerrar sua carreira esportiva, perdeu todos os títulos obtidos depois de 1998 e foi banido do ciclismo competitivo pela União Ciclística Internacional, depois de assumir ao vivo em rede televisiva, no programa de Oprah Winfrey, o uso de dopagem bioquímica.
Um escândalo que mudou a história do esporte.
Em sua entrevista, ele disse que nenhum ser humano em condições anti-doping conseguiria vencer o tour de France sete vezes seguidas sem ajuda de químicos. Babado, né?
6. Carnaval na França?
Não é só a Marquês de Sapucaí que traz carros alegóricos belíssimos e pomposos; antes dos ciclistas passarem, acontece a famosa Caravana Publicitária — que é basicamente um mini Carnaval sobre rodas.
/deia.eus
São 180 veículos alegóricos, super produzidos e enfeitados, com marcas distribuindo brindes, buzinas, coreografias, tudo isso percorrendo o trajeto antes dos atletas. Mais de 30 marcas participam por valores de pelo menos seis dígitos.
Super divertido, uma jogada (literal) de marketing excelente e que super contagia o tour, atraindo muitas pessoas que vão apenas pra isso.
7. Prêmio e a grana do Tour - vamos falar sobre dinheiro?
O Tour de France possui diversas premiações em dinheiro, tanto para a classificação geral quanto para outras categorias como melhor escaldador, melhor jovem, melhor sprinter e por equipes. O campeão geral leva $500 mil, o segundo $200 mil, e o terceiro, $100 mil. - Euros, claro.
Com um modelo de negócios paradoxal, não há venda de ingressos, nem divisão da receita com os times — que gastam mais de US$ 50 milhões para disputar uma premiação de apenas US$ 3 milhões.
As equipes são empresas privadas que se bancam com dinheiro de patrocinadores — muitas vezes, bilionários apaixonados por ciclismo.
As 23 equipes têm orçamentos que variam de 15 a 75 milhões de dólares. Até 75% desse valor vai para salários. Nomes como Tadej Pogačar, atual campeão do Tour (2025), ganham mais de 5 milhões por ano.
Cada atleta tem cerca de seis bikes de última geração, avaliadas em até 15 mil dólares cada. O resto da grana cobre staff, mecânicos, médicos, cozinheiros, caminhões, ônibus, logística, purificadores de ar... o full package.
Pra finalizar..
Sendo um espetáculo logístico, resolvi trazer alguns números que impressionam sobre o tour:
Cidades visitadas: cerca de 39 por edição - Começando pela largada, ou o Grand Départ. A cidade escolhia paga de US$ 10 milhões para ser a anfitriã. As etapas subsequentes variam de algumas centenas de milhares de dólares.
Transmissão global: Para mais de 190 países em 100 canais diferentes e muita gente assiste. O valor de um contrato gira em torno de US$ 75 milhões.
Ciclistas: 176, divididos em 22 equipes. Não há substitutos ou reservas.
Câmeras: Filmar os ciclistas exige ao menos 260 operadores de câmera, 35 caminhões técnicos e 6 helicópteros — ou aviões.
Patrocinadores: mais de 40 marcas envolvidas.
Ciclista mais jovem: O mais jovem vencedor do Tour de France foi Henri Comet em 1904, com 19 anos. Hoje, fenômenos como Pogačar já venceram com 21.
Subida mais íngreme: Cume de la Bonette – 2.860 metros de altitude e inclinação média de 6,8%
Descidas mais perigosas: Col du Sarenne e Alpe d'Huez – estradas em más condições, ausência de barreiras e curvas acentuadas.
Países com mais vitórias: A França é o país com mais vitórias (36), mas a última data de 1985. A Bélgica vem depois, com 18 vitórias, e a Espanha tem 12.
Poderíamos dissertar horas e horas inúmeras outras curiosidades como as que os primeiros ciclistas usavam álcool e éter pra aliviar a dor. Ou que só as guerras mundiais conseguiram interromper o Tour. Ou ainda listar as quedas mais absurdas. Mas vamos dar um break por aqui. Quem sabe numa próxima?
Se esse blog despertou em você nem que seja um interessezinho pelo Tour, missão cumprida!
Aqui na S2, somos movidos por paixão. Pela bike, pelas histórias e pelo que descobrimos no caminho.
Me conta aqui embaixo qual curiosidade mais te instigou; e se quiser mais conteúdos nesse formato, só dar o toque.
No melhor estilo francês de despedida:
Au revoir,
Polyana Ysleiker.
Designer gráfico — S2 Indústria de Bicicletas.
Achei muito interessante o assunto.
Nao conhecia este torneio.
Mas achei legal, a organização, e o tanto de pessoas envolvidas, tanto os participantes e os colaboradores.
Excelente artigo 👏👏👏
Amei descobrir sobre esse novo mundo! Pelo prêmio, também um pouco pela glória Kkkkk, me deu uma vontadinha de competir!
Amei demais, texto excelente
Gostei muito do artigo. E abriu um leque de novas possibilidades. Agradeço a contribuição!
Amei o texto. Não conhecia. Fiquei com vontade de assistir. Deve ser muita adrenalina no ar.
Que tal escrever sobre as ciclovias da Holanda inspiradas na obra de Van Gogh?
Parabéns a todos os ciclistas.
Participar sempre, vencer se possível.
Texto perfeito.